Gastos públicos ultrapassam R$ 3 trilhões em 2025 e escancaram desequilíbrio fiscal no Brasil

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“O que mais revolta é pagar tanto imposto e não ver retorno algum”, desabafa Rodrigo Marrara, servidor público de Brasília, 54 anos. “Você paga Imposto de Renda, INSS e, mesmo assim, precisa bancar escola para os filhos, plano de saúde, previdência privada, transporte… O Estado simplesmente não entrega.”

O sentimento de Marrara é comum entre milhões de brasileiros — e agora ganha respaldo em números concretos. Os gastos públicos primários dos governos federal, estaduais, distrital e municipais já superaram a marca de R$ 3 trilhões em 2025, de acordo com o painel Gasto Brasil, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A cifra foi atingida nesta semana e acende um alerta sobre o rombo crescente nas contas públicas.

Instalado em locais de grande circulação, como o centro de São Paulo e de Salvador, e disponível também pela internet, o Gasto Brasil contabiliza em tempo real os gastos públicos no país. A ferramenta tem o objetivo de promover a transparência e estimular o debate sobre a eficiência do Estado. Mas os dados apontam para um cenário preocupante: a arrecadação está em R$ 2,3 trilhões, o que configura um déficit de R$ 700 bilhões no ano.

Para o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Alfredo Cotait, o painel é uma forma de cidadania econômica.
“Criamos o Impostômetro há 20 anos para mostrar quanto se paga de impostos. Agora, com o Gasto Brasil, mostramos para onde vai esse dinheiro. O problema é que o gasto público continua crescendo e a arrecadação não acompanha. Essa conta fecha com aumento de imposto, juros altos e fuga de investimentos.”

Segundo Cotait, a má gestão dos recursos está no centro do problema.
“Como o governo não quer cortar gastos, tenta arrecadar mais — só que ninguém aguenta mais impostos. O ambiente de negócios está sendo sufocado.”

O economista Cesar Lima, especialista em orçamento público, concorda com o diagnóstico. Para ele, o Gasto Brasil ajuda a população a enxergar o tamanho e o custo do Estado.
“Mais de dois terços dos gastos vão para a Previdência. Talvez uma nova reforma seja inevitável.” Ele também critica a baixa qualidade dos serviços públicos: “Gasta-se muito e mal. Saúde, educação, transporte, infraestrutura — tudo precário. Isso mina a confiança da sociedade no sistema fiscal.”

Mesmo com o novo regime fiscal aprovado em 2023, as projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) indicam que o governo federal deve fechar 2025 com um déficit primário acima de R$ 80 bilhões, e o cenário para 2026 também é negativo, com expectativa de novo rombo em torno de R$ 79 bilhões.

A aposta do governo agora é a reforma administrativa, relatada pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que deve começar a tramitar no Congresso no segundo semestre. A proposta prevê medidas como digitalização de processos, avaliação de desempenho e unificação de carreiras públicas.

Para Cotait, é hora de coragem política:
“A sociedade precisa exigir que as reformas avancem, mesmo com pressões corporativas. Se quisermos um país mais competitivo, precisamos de um Estado mais enxuto e eficiente.”

Enquanto isso, o Gasto Brasil segue girando em tempo real — um lembrete permanente de que a conta não fecha, e que a fatura, mais uma vez, vai parar no bolso do contribuinte.


O que é o Gasto Brasil?
Inspirado no Impostômetro, o Gasto Brasil é uma plataforma desenvolvida pela ACSP em parceria com a CACB. A ferramenta mostra em tempo real quanto os governos estão gastando — federal, estaduais e municipais — e busca ampliar a transparência sobre o uso do dinheiro público. Pode ser acessado pelo site: www.gastobrasil.com.br.